Eles não vão entender - Texto escrito por Frederico Elboni


Existem tristezas, dúvidas e desafetos que somente nós conseguimos mensuraro quanto ainda nos ferem e o quão internamente vastos são. Dividir com os outros o que realmente sentimos é de suma importância para democtizar as nossas inquietações, mas nem sempre o melhor caminho para sentir-se seguro com as próprias e turbulentas decisões. A gente deve compartilhar as insistentes angústias que nos habitam, mas mais importante do que compartilhar os nossos sentimentos com os outros, é saber quem de fato irá ouvi-los com a calmaria do coração e não com a ansiedade dos julgamentos morais.
Quando estou presente em algum evento e me disponho a ouvir algumas histórias das pessoas que ali estão, sei que sou somente um receptor e não um emissor de opiniões, por mais que elas achem que não, por mais que elas achem que realmente querem ouvir a minha opinião sobre aquela determinada situação. Ouço histórias de todos os tipos, desde agressões e assédios, até de familiares que partiram ou amores românticos que hoje vivem em uma eterna caixa postal. A verdade é que quando essas pessoas me contam as suas histórias, elas não querem ouvir uma resposta minha ou um conselho com o propósito de alívio imediato – que, honestamente, muitas vezes nem existe –, elas só querem ser ouvidas. Elas querem dizer o que sentem e que alguém as compreenda – e compreensão nem sempre é seguida de palavras. Enquanto elas contam seus os relatos, deixo as suas palavras fluírem e ganharem força na própria boca delas, me muno de carinho pela história e na magia do silêncio me expresso somente com os olhos: “pode falar, pode continuar, não se julgue, aqui você pode ser quem você quiser…”
Quando o assunto é uma dor guardada na gaveta do coração, a gente precisa manusear com cuidado, pois nem todos saberão lidar com as nossas intimidades com o respeito que elas merecem. Eles podem até ouvir, mas irão analisá-las pelas próprias experiências e não pelo contexto original da história – colocar a sua realidade como parâmetro é sempre de uma enorme injustiça. O que os outros têm a dizer sobre os nossos sentimentos poder ser único e especial, mas necessita de muita consciência compreensão. Talvez isso é o que muitos chamam de empatia.
Precisamos dizer o que sentimos e, caso necessário, nos emocionar com isso, porém dividir as nossas melancolias com quem temos certeza que não irá se preocupar com a profundidade delas é um pecado. Decidir quem merece o nosso voto de confiança ao falar sobre nós é uma escolha importante para não desacreditarmos nas pessoas como um todo. Fale, nunca deixe de falar e de se abrir, mas saiba com quem dividir as tuas verdades, pois nem todos estão honestamente interessados e merecem ouvir as histórias que teu coração quer, e tem a necessidade, de contar

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