Florescer - texto escrito por Tahnee Baer

A bem da verdade, somos melhores em expressar as amarguras de um coração partido, que as alegrias de seu pulsar apaixonado.

Pessoalmente, e como muitos de nós não gostariam de admitir, somos culpados por não reconhecer a felicidade mágica ao lado de um grande amor... é bom demais para ser verdade diz o ditado. Ou ainda: melhor não criar expectativas no alto da colina, pois a queda pode te matar, o peixe morre pela boca, e tantos outros que acabamos agradecendo baixinho ao destino ou outra força qualquer, a qual acreditamos que nos premiou com a pessoa mais especial da face da Terra.

E dessa maneira as palavras de amor, os gestos de carinho, os planos, os sonhos, as mudanças e tudo o que a vida a dois nos traz vai ficando em silêncio... pois, se aquela pessoa especial suspeitar uma entrega total, o senso comum ganha a aposta e você rola colina abaixo, é abocanhado pelo anzol e as coisas se revelam não tão boas quanto pareciam.

Entretanto, numa certa altura daquele relacionamento tão perfeito e promissor, colocado numa redoma de cristal longe de qualquer cobrança, preservado pela ausência de toques e palavras que revelem o quanto você é dele, o quanto a sua vida segue com ele, algo se perde.  E você se dá conta de que anda de mãos dadas com um estranho. O ser que lhe arrepiava a espinha com um olhar penetrante, cheio de desejo e bem querer, simplesmente não existe mais.

O que se perdeu? Quem se perdeu? O que se perdeu foi a chance de transformar em realidade aquela gratidão sincera das tuas orações pelo amor da sua vida finalmente ter cruzado o seu caminho. Afinal, ele não sabia muito bem disso... você não quis sufocá-lo com palavras e planos. Quem se perdeu foi a pessoa especial que fez nascer essa oração. Ela ficou perdida em algum lugar entre o que você sentia, mas não disse, e a ilusão de que ele saberia reconhecer  os sinais velados de um futuro lindo ao seu lado. 

E você entende que o brilho nos olhos dele ao encontrarem os teus, eram apenas o reflexo dos teus pensamentos e emoções. E quando finalmente os externaliza, percebe que o espaço que deveria ser ocupado pela recíproca está vazio. É neste momento que entende, de uma vez por todas, que o amor é para ser compartilhado... que alimentá-lo e preservá-lo das armadilhas da vida como se fosse incapaz de sobreviver fora de ti, é como impedir que um filhote de animal selvagem siga seus instintos e saia do ninho quando chegar a hora. 

Basta olhar como age a natureza. Plante as sementes, regue a terra, coloque ao sol e proteja o broto das pragas. O normal é florescer! Se assim não acontecer com o seu amor, aceite que a terra não lhe deu os nutrientes necessários, que o sol não brilhou o suficiente. Nada morre antes mesmo de nascer, a não ser a ilusão de um amor platônico.