Ser Livre - Texto escrito por Diego Engenho Novo



Há alguns anos, parti. Tomei minha mochila como casa, meus pés como bússola e os segui. Troquei minha mobília pela estrada, minha cama por estadas, minhas janelas pelo infinito à frente. Mas, estranhamente, ao contrário do que pensei, a cada novo quilômetro, a cada nova fronteira ultrapassada, a cada novo pontinho no mapa, eu não me sentia mais leve. Só me sentia mais só.
Apesar, do silêncio imenso do amanhecer, meus medos, minhas dores, minhas saudades, minhas lembranças, amanheciam também comigo. Fingindo-se escondidos por entre a bagagem, como uma criança que segue com o circo, sussurravam-me verdades, segredos que eu não queria ouvir. Ao anoitecer, quando também estava sozinho entre os murmúrios da mata ou observando as ondas da praia, eu podia ouvir meu coração com um medo imenso de jamais se sentir preenchido.
Naquele outubro, com os pés feridos, sentei-me aos pés do monte Kukenan e chorei, e chorei, e chorei até me esvaziar por completo. Ali, pedi aos espíritos, que as crianças me disseram existir na montanha, que me libertassem do peso que carregava. Adormeci e em meus sonhos recebi as respostas todas que me faltavam. Eu vi, um dente-de-leão, lançando suas pequenas partes pelo céu, com uma doçura que jamais saberei descrever. Eu vi e foi só aí que realmente acordei.
Liberdade é não estar preso a nada e ainda sim fazer parte de um todo, é se perder milhares de vezes, mas jamais se esquecer de onde se veio. É viver o quanto mais livre das emoções do outro, mas, ainda assim, amar cada aproximação do próximo, porque ele também te torna inteiro.
Não vê, que mesmo despedaçado em milhares de pequenas partes, o dente-de-leão ainda é um dente-de-leão inteiro? Não vê que quando partido, solto e multiplicado pela vontade do vento, é que ele faz ainda mais sentido? Certas almas só estarão completas livres, mas é preciso que elas também aceitem isso. Por isso vou, pelo mundo voo. E quanto mais me espalho por aí, mais me sinto inteiro.

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